Bateu, levou, já era. Uma fala mal dita pode se tornar maldita num segundo. Basta deixar de colocar o filtro do amor que as palavras podem azedar um relacionamento. E como controlar um comportamento impulsivo? Como administrar uma situação crítica, em que os ânimos estão a flor da pele e às vezes parece impossível pensar duas vezes antes de abrir a boca?

É importante refletir sobre a intenção positiva da reação. Talvez seja não perder a discussão, não se sentir acuado ou até uma vontade imensa de fazer valer seu ponto de vista perante o outro.

Tudo isso remete ao comportamento de sentir-se seguro. E em que momentos você pode sentir segurança, sem necessariamente ter que gritar com o outro ou dizer palavras sórdidas que ferem?

Para oferecer essa reflexão, vou emprestar uma história contada pelo maestro Benjamin Zander, chefe da orquestra filarmônica de Boston, nos Estados Unidos. Ele resgatou a vivência de dois irmãos, uma menina e um garotinho que seguiam de trem pra Auschwitz, um campo de concentração localizado na Polônia, criado pelo regime nazista, em que morreram milhares de pessoas. Os pais das crianças estavam desaparecidos, talvez até mortos naquela situação e a menina, que era mais velha, mostrava muito nervosismo. Vendo o irmão sem os sapatos, ela gritou: “você não consegue manter as suas coisas com você, você perde tudo!”. Foram as últimas palavras dela para o irmão; depois que a viagem terminou, ela nunca mais o viu. Ele morreu, ela sobreviveu ao massacre. E decidiu que a partir daquele momento nunca mais diria nada que não pudesse se sustentar como a última coisa que dissesse. É forte isso, né?

Quantas vezes a gente se arrepende das palavras que diz? Se pudéssemos voltar no tempo, não teríamos ofendido, magoado, entristecido ninguém, porque nossa origem é boa e nossa intenção também.

Portanto, é urgente que usemos o filtro do amor. Por educação, gentileza ou amor que não deixemos de pensar duas vezes antes de proferir qualquer palavra que possa magoar. A decisão de qualquer coisa é sempre nossa. E o momento acalorado não pode servir de justificativa para explicar uma grosseria ou uma palavra mal colocada. É sempre tempo de refazer uma postura, de se colocar no lugar do outro, de adoçar as palavras. A conclusão sobre os benefícios que esse novo comportamento traz pode ser o motivo para que o outro, antigo, não se repita. As vezes a gente pratica comportamentos que ficam fora de moda; é preciso atualizar nossa maneira de se manifestar, porque como dizia Einstein: “se você faz tudo sempre do mesmo modo vai encontrar sempre o mesmo resultado”.

Recicle-se, transforme-se, porque tudo que é vivo está em constante transformação.