O óbvio, que muitas vezes o outro não enxerga, pode não ser tão óbvio assim. O que é evidente pra um pode necessitar de mais detalhes ou outra forma de explicar para que o outro perceba, assimile e entenda.

Quantos desentendimentos são iniciados por que um não entende o outro? Problemas de comunicação, as pessoas dizem. Assim é na empresa, em casa, com os amigos. Se substituirmos o termo problema por desafio, então teremos desafios de comunicação. Sempre, a comunicação é sempre um desafio. Se eu não me entendo, posso não entender o outro e não me preocupar que ele me entenda também. Se assim for, nem quero saber se pra ele o que eu digo não é obvio, claro, evidente.

Quando alguém diz: é óbvio! E essa palavra vem quase sempre carregada de ênfase. É óoooooobvio! Um tem certeza absoluta do que está dizendo e de como está dizendo. E o outro fica com cara de paisagem porque não entendeu e, agora com menos vontade ainda, já que o comunicador, pra quem tudo é óbvio, parece que fechou uma porta.

Óbvio é tudo o que não pode ser contestado. Por exemplo: a Terra é um planeta, estamos em janeiro, o Brasil é um país.  Tudo isso é fato. Opinião não garante obviedade. Se eu digo: é óbvio que ele não gosta mais de você. Estou partindo de uma opinião pessoal, de uma percepção, a não ser que eu tenha evidências, provas para consolidar minha opinião. É um desafio separar um julgamento de uma evidência. Ainda mais quando o julgamento é mais vantajoso para nós do que a prova daquilo que defendemos.

Quando queremos ter razão, normalmente dizemos: é óbvio que sim, ou é óbvio que não, na tentativa de convencer o outro sobre a nossa crença.  Mas esse convencimento passa, na maior parte das vezes, pelo mínimo esforço para que o outro entenda, sem a dedicação da explicação desenhada, do vocabulário simples, da busca de comparações e exemplos para facilitar o entendimento. É como se eu pensasse: se isso é tão óbvio pra mim, por que o outro não entende tão facilmente?

Vou te dar 3 possíveis motivos pra isso:
– primeiro: ele deve ter uma bagagem cultural diferente da sua
– dois: talvez a velocidade de raciocínio seja diferente também
– e três: talvez ele acredite exatamente no contrário daquilo que você crê e, por isso, nem consegue entender por que você acha isso tão óbvio!

O comportamento de quem considera algo tão óbvio que não merece uma explicação mais simples beira a arrogância. É como se o comunicador dissesse: eu ainda tenho que explicar? Vai precisar que eu desenhe? É, a comunicação é mesmo um desafio. O desafio maior nem é entender e focar o outro, mas é mergulhar no autoconhecimento para se perceber primeiro e se desenvolver como pessoa. Só seremos melhores comunicadores se nos trabalharmos internamente, por isso eu sempre digo que comunicação é comportamento.

Eu te convido ao desafio de se perceber mais e analisar as próprias falas e entender como isso chega no outro. Considerando que o outro existe, a gente pode se comunicar melhor. Se não, vamos falar sozinhos. E nesse caso não há desafio nenhum e por isso também não existe a prática de habilidades. Portanto não existe desenvolvimento.